10 de março de 2014

Retrato da educação no “país de todos”



Fantástico exibiu no último domingo uma matéria especial mostrando a precária situação das escolas públicas no nordeste do país. A reportagem, que merece reconhecimento, faz uma denúncia de um problema crônico, bastante conhecido pela população desde sempre sobre um dos pilares de um país que se diz em desenvolvimento e avançado. Escolas sem o mínimo de condição estrutural para os alunos. Lugares abandonados, sem água potável, energia elétrica, instalações precárias, falta de merenda, esgoto aberto, material escasso ou danificado. Professores que tentam salvar uma rede pública de educação em estado vegetativo.

Fui aluno, durante toda minha vida escolar, de colégio público estadual e depois federal. Tive a oportunidade de estudar em uma escola de excelência, reconhecida internacionalmente como uma das melhores escolas públicas. Passei por sérios períodos de greve de funcionários, falta de professores concursados e, às vezes, situações precárias de infraestrutura, como banheiros depredados, carteiras e ventiladores danificados etc. Porém, tais dificuldades são ínfimas e insignificantes diante de uma realidade decadente e triste dessas escolas municipais encontradas principalmente em regiões rurais ou distantes das capitais.

A minha realidade era outra e, por isso mesmo, muitas vezes questionada por profissionais de ensino que acusavam de sistema elitizado, porque era voltado para poucos. De fato, se considerarmos o número de alunos matriculados em escolas públicas no Estado do Rio de Janeiro, a porcentagem atribuída aos alunos de escolas federais é muito pequena diante da realidade. São poucos os que têm a oportunidade de frequentar bibliotecas, laboratórios de ciência e de informática, quadras de esporte, além de salas climatizadas etc. São poucos alunos que têm em seu currículo escolar matérias como latim, inglês, francês, espanhol, educação para cidadania, filosofia, música, desenho, artes, sociologia. São poucos alunos que têm aula com professores mestres e doutores, com plano de carreira, direto à licença remunerada para estudos acadêmicos.

Mas quem está errado? A escola pública de qualidade que proporciona aos seus alunos uma educação completa, capaz de formar cidadãos conscientes, formadores de opinião, capacitados para enfrentar o mercado de trabalho de forma qualificada e ingressar nas universidades públicas? Não. Infelizmente, o que deveria ser padrão, torna-se alvo de críticas porque são apenas modelos de um sistema que deveria ser igual para todos que necessitam.

Qual a diferença de um aluno da região sudeste para um aluno do nordeste, norte ou outra região do país? Absolutamente nenhuma. As escolas federais são restritas às grandes metrópoles e, sim, recebem mais verbas e, portanto, mais estrutura que demais escolas da rede pública. As estaduais e municipais são precárias porque faltam verbas, mas também porque o controle por parte dos governantes é muito menor, diante da realidade brasileira.

No interior do Brasil, o voto de cabresto ainda é uma realidade. O velho coronelismo impede a verdadeira democracia. E daí, o dinheiro público não tem destino certo para escolas, hospitais. Fora isso, os professores não recebem o reconhecimento necessário, não só financeiro, como incentivo para pesquisa e pós-graduação.

O sentimento é de revolta e profunda tristeza, porque sabemos o quanto o país perde com esse atraso e essa imensa desigualdade. A cobrança deve existir sempre e a consciência do voto principalmente. Difícil é saber que falta muito para verdadeira transformação na cabeça dos próprios cidadãos sobre a importância do voto. Cobrar apenas não basta.

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