11 de dezembro de 2015

Chico – Artista Brasileiro



Quem não gosta de Chico Buarque de Holanda aí levanta a mão?

Pois é, difícil. Talvez quem não gosta é porque não liga para MPB em geral, não conhece bem sobre história política do país, não se interessa por poesia, linguagens figuradas, personagens marcantes, melodias bem feitas... 

Um cara que já nasceu com a cultura dentro de casa. Seu pai, sociólogo e historiador Sérgio Buarque de Holanda, era amigo de escritores e músicos, como Vinícius e Manuel Bandeira. Aprendeu o gosto pela literatura desde cedo, lia em francês, inglês, italiano e espanhol. Com 22 anos venceu o concurso de música com “A Banda”, cujo sucesso internacional lhe tornou um artista da noite para o dia.

Precisariam de várias linhas para descrever quem é Chico Buarque, mas o intuito aqui é falar sobre o recente documentário “Chico – Artista Brasileiro”, de Miguel Faria Jr, que estreou em novembro. Mais uma obra prima de Miguel, mesmo autor do documentário de Vinícius de Moraes. A grande diferença do doc sobre Vinícius para esse é que no primeiro, o protagonista foi revelado por seus contemporâneos, com relatos de histórias vividas ao lado do poeta. Já no atual filme, o protagonista conta suas histórias de forma aberta e franca, para uma câmera amiga, que não intimidou Chico. Ao contrário, o deixou bastante à vontade, para que o artista se despisse em suas revelações – maduras e profundas.

Chico fala de sua relação difícil com o pai, exigente, e a história de um irmão alemão, que só veio à tona quando ele já tinha seus 23 anos. Inclusive, ele resolveu escrever essa história em recente livro, misturando um pouco de realidade e fantasia. Ele também fala sobre seu relacionamento com Marieta Severo, sua esposa durante 30 anos, com uma declaração de respeito e admiração pela companheira que foi. Chico abre sua casa e mostra uma intimidade pouco ainda vista (porque ele não é celebridade de Caras). Fala sobre sua carreira, seus sucessos, seus dilemas enquanto compositor, seus trabalhos como escritor e até sobre sua velhice. A impressão que dá é que você está ali, na sala dele, bebendo um café e conversando com o velho Chico.

Lembro uma vez, quando estava andando de bicicleta na orla do Leblon, e passa Chico fazendo sua caminhada no calçadão, tranquilo. A primeira reação foi “era o Chico?”. Parei, voltei, e passei por ele novamente. “Sim, é o Chico”. Assim como eu, muitos passaram por ele, mas ninguém o parou para tirar uma foto, nem pedir autógrafo. O Rio tem dessas coisas, você de repente cruza com um dos seus artistas prediletos e continua andando, porque a vida continua (para mim e para ele).

Mas voltando ao documentário, o filme ainda traz, intercalando a entrevista, cantores interpretando um repertório especial, como Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Adriana Calcanhoto e Mart´nália. O brinde do filme são os netos reunidos na casa do avô, mostrando que o talento se perpetua.

Lamento por ainda não ter assistido a um show dele. Aliás, pelo visto, Chico está cada vez mais escritor e menos músico. Mas depois de um filme como esse, ele deveria voltar aos palcos urgentemente. Fica aqui meu apelo virtual!

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