Pois é, difícil. Talvez quem não gosta é porque não liga
para MPB em geral, não conhece bem sobre história política do país, não se
interessa por poesia, linguagens figuradas, personagens marcantes, melodias bem
feitas...
Um cara que já nasceu com a cultura dentro de casa. Seu pai,
sociólogo e historiador Sérgio Buarque de Holanda, era amigo de escritores e
músicos, como Vinícius e Manuel Bandeira. Aprendeu o gosto pela literatura
desde cedo, lia em francês, inglês, italiano e espanhol. Com 22 anos venceu o
concurso de música com “A Banda”, cujo sucesso internacional lhe tornou um
artista da noite para o dia.
Precisariam de várias linhas para descrever quem é Chico
Buarque, mas o intuito aqui é falar sobre o recente documentário “Chico – Artista Brasileiro”, de Miguel
Faria Jr, que estreou em novembro. Mais uma obra prima de Miguel, mesmo autor
do documentário de Vinícius de Moraes. A grande diferença do doc sobre Vinícius
para esse é que no primeiro, o protagonista foi revelado por seus
contemporâneos, com relatos de histórias vividas ao lado do poeta. Já no atual
filme, o protagonista conta suas histórias de forma aberta e franca, para uma
câmera amiga, que não intimidou Chico. Ao contrário, o deixou bastante à
vontade, para que o artista se despisse em suas revelações – maduras e
profundas.
Chico fala de sua relação difícil com o pai, exigente, e a
história de um irmão alemão, que só veio à tona quando ele já tinha seus 23
anos. Inclusive, ele resolveu escrever essa história em recente livro, misturando
um pouco de realidade e fantasia. Ele também fala sobre seu relacionamento com
Marieta Severo, sua esposa durante 30 anos, com uma declaração de respeito e
admiração pela companheira que foi. Chico abre sua casa e mostra uma intimidade
pouco ainda vista (porque ele não é celebridade de Caras). Fala sobre sua
carreira, seus sucessos, seus dilemas enquanto compositor, seus trabalhos como
escritor e até sobre sua velhice. A impressão que dá é que você está ali, na
sala dele, bebendo um café e conversando com o velho Chico.
Lembro uma vez, quando estava andando de bicicleta na orla
do Leblon, e passa Chico fazendo sua caminhada no calçadão, tranquilo. A
primeira reação foi “era o Chico?”. Parei, voltei, e passei por ele novamente. “Sim,
é o Chico”. Assim como eu, muitos passaram por ele, mas ninguém o parou para
tirar uma foto, nem pedir autógrafo. O Rio tem dessas coisas, você de repente
cruza com um dos seus artistas prediletos e continua andando, porque a vida
continua (para mim e para ele).
Mas voltando ao documentário, o filme ainda traz,
intercalando a entrevista, cantores interpretando um repertório especial, como
Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Adriana Calcanhoto e Mart´nália. O brinde do
filme são os netos reunidos na casa do avô, mostrando que o talento se
perpetua.
Lamento por ainda não ter assistido a um show dele. Aliás,
pelo visto, Chico está cada vez mais escritor e menos músico. Mas depois de um
filme como esse, ele deveria voltar aos palcos urgentemente. Fica aqui meu
apelo virtual!
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