Um soco no estômago da sociedade. Isso resumo o filme “Sob
Pressão” (2016), de Andrucha Waddington, que retrata a triste realidade da
saúde pública no País. O cenário é um hospital público localizado em uma
comunidade que vive a guerra do tráfico de drogas. Não bastasse a falta de
recursos no hospital, a equipe médica vive a difícil tarefa de “escolher” quem
será salvo primeiro entre os pacientes: um traficante, um policial e uma
criança, todos eles baleados.
A questão é muito maior que a discussão de salvar o “herói”
ou o “bandido”, como repercutiu negativamente nas redes sociais. É uma questão
de sobrevivência da “medicina de guerra”, como é tratado no filme. Os médicos
sofrem pressão de todos os lados, até mesmo entre eles, para saber quem vai
atender quem e como, já que falta tudo.
A realidade do País é uma saúde pública sucateada, que não
enxerga no médico um profissional e sim um milagroso, que vai tentar salvar
vidas com os poucos recursos, com horas seguidas de plantão, em uma rotina
estressante e sob pressão. O filme
consegue passar essa adrenalina, como se o espectador fizesse parte da equipe
médica, sofrendo com tal pressão, mas ao mesmo tempo torcendo para que todos os
pacientes sejam socorridos a tempo.
Impossível não se frustrar quando o paciente não resiste e
acaba morrendo. Mas também todos são conscientes que não existe milagre. Nem
todos têm estomago para assistir a um filme realista, que mostra a verdade dos
fatos. Já ouvi dizer “não consigo ver na tela do cinema um filme como esse,
quando vivemos em uma cidade tão violenta todos os dias”.
Mas para os “fortes”, recomendo esse longa. Todo elenco está
ótimo na interpretação, com destaque do Júlio Andrade, Ícaro Silva, Marjorie
Estiano e Andrea Beltrão. O roteiro de Renato Fagundes é fascinante e passa
toda tensão “necessárias” para viver o drama que propõe o longa.
Sobre a polêmica de quem salvar primeiro, minha opinião é a
mesma que a do médico chefe da equipe, interpretado por Júlio Andrade: deve-se
fazer o certo. E naquele caso, o certo era salvar o traficante, ao invés do
policial. Não é questão de ser o bandido e o policial. A questão ética é qual o
estado de saúde mais crítico, independente de quem seja. O que acontece, numa sociedade
como a nossa, é achar que o “certo” é salvar quem teoricamente nos defende e “deixar
morrer” aquele que supostamente nos mataria. O médico não fez juramento para
salvar quem “merece ou não” viver.
O que a sociedade deveria lutar para que esse médico não viva
seu drama diário de ter que escolher sobre qual vida socorrer primeiro.
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