1 de setembro de 2010

Chiquinha Gonzaga


Há tempos tinha vontade de rever a minissérie Chiquinha Gonzaga que foi exibida na TV em 1999. Na época, eu tinha 17 anos e, apesar de gostar muito das músicas, estudar piano e conhecer um pouco da trajetória dela, eu não tinha “olhos críticos” como tenho hoje. Resolvi pegar a série completa e assisti recentemente. Confesso que fiquei um pouco decepcionado porque a obra segue o estilo Jayme Monjardim (diretor do seriado): arrastado, melancólico, clichê e brega em alguns momentos. Mas valeu pela história fantástica dessa mulher.

Ao começar pela escolha das atrizes, Gabriela Duarte e Regina Duarte, que pecam na interpretação excessivamente sentimental e melancólica (a voz da Gabriela é irritante!), e o fundo musical que é o mesmo do início ao fim do seriado (um arranjo péssimo que “assassinou” a melodia de Chiquinha). Para se ter uma idéia do que estou falando, há uma cena da Chiquinha jovem que enquanto é estuprada pelo marido, solta uns gritinhos sem graça e sem emoção nenhuma, com uma ópera de fundo. Sinceramente, o bom gosto passou longe. Se analisar, esse estilo está em toda obra do Jayme, principalmente no filme Olga e na recente minissérie Maysa – nesta então a atriz passou o seriado todo com aquela cara de “meu mundo caiu”.

Voltando para o que de fato interessa comentar, a história de Chiquinha Gonzaga impressiona até as feministas do século XXI. Em uma época que casamento era arranjado pelo pai e era considerado sagrado, Chiquinha não só se separou, como foi viver com seu grande amor, João Batista de Carvalho, deixando para trás dois filhos. Isso lhe custou o rompimento de seu pai (militar absurdamente severo) e de sua mãe (totalmente submissa). Como o segundo marido não fugia à regra da época (e tinha várias amantes), não se submeteu à vida de dona de casa submissa e o abandonou, deixando mais uma filha. O único filho que o acompanhava era o mais velho, por quem Chiquinha tinha um carinho especial.

Trabalhou com música – sua verdadeira paixão – até sua morte aos 85 anos e não se incomodava com os preconceitos da época. Lutou contra a escravidão (chegava a vender suas partituras para comprar alforria de escravos), lutou pelo fim da monarquia, chegando a ser presa, e criou, ao lado do músico Joaquim Callado, uma das expressões musicais brasileiras mais importantes (e mais difíceis também!): choro brasileiro.

Escandalizava a sociedade com suas músicas, seu estilo livre, seus pensamentos e atitudes e, principalmente, com seus casos amorosos. Pioneirismo pode ser a palavra que resume sua personalidade. Foi a primeira mulher a se apresentar em público como musicista, a primeira mulher a assinar um musical, a primeira a reger (ou seja, a primeira maestrina) uma orquestra e, consequentemente, a primeira a ser conhecida e reconhecida, com todos os preconceitos peculiares da época. Nasceu em 1847, casou-se aos 16 anos em 1863, e morreu aos 85 anos em 1935. Vivenciou abolição, a Proclamação da República e a primeira grande guerra mundial.

Quando estudava piano, aprendi a tocar Lua Nova, uma de suas músicas mais conhecidas e mais bonitas também. Para quem gosta de música popular brasileira, principalmente chorinhos, polcas, valsas, conhecer a história dela é conhecer a história da MPB. 


Site Chiquinha Gonzaga, porWandrei Braga

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