Estão em
cartaz alguns musicais que valem a pena conferir para quem está no Rio. Em
janeiro, assisti primeiro a estréia de “As Mimosas da Praça Tiradentes”, no
Teatro Carlos Gomes, e depois vi o já badalado “Tim Maia – Vale Tudo”, do outro
lado da praça, no teatro João Caetano.
O primeiro
retrata o universo dos cabarés já em decadência, com performances clichês de
drags e homens, mas com um texto bem humorado. O musical fala um pouco sobre a
história da própria Praça Tiradentes, no tempo em que se dizia que lá era “a
Broadway brasileira”, quando se concentravam vários teatros na região. Mas a
peça vai além, misturando humor com dança.
Já no
segundo, o fenômeno Tiago Abravanel, até então um desconhecido ator e neto de
Silvio Santos, interpreta e incorpora Tim Maia com seus trejeitos e voz
marcante. Mesmo quem não gosta do repertório de Tim Maia, gosta da performance
e da história de vida de um artista que viveu à margem da beleza, mas com um
talento único. É claro que o foco é voltado para o personagem principal do
musical, mas todo o elenco é maravilhoso. São três horas de peça, sem ser
cansativo, diga-se a verdade! No final, Tiago empolga a platéia com um momento “bis”
de show, já sem texto, sem roteiro. Não é à toa que todas as temporadas (já
passou por várias inclusive) ficam lotadas. O texto de Nelson Motta é bem
amarrado, com as histórias bem contadas ao longo da peça, o que faz ser um
musical completo (melhor que o primeiro, inclusive).
Saindo de
teatro, mas não deixando de falar de música, o filme “Música segundo Tom Jobim”
é um deleite aos ouvidos de quem ama a obra dele. Sou suspeito em falar, porque
– para mim - não há dupla melhor que Vinícius e Tom em todos os tempos! Ao
contrário do documentário “Vinícius”, lançado em 2005 e dirigido por Miguel
Faria Jr, que reúne depoimentos de artistas que conviveram com o poeta,
mesclando registros históricos sobre a vida e obra; esse novo filme, feito por
Nelson Pereira dos Santos, mostra a música pela música, sem falas, depoimentos
e narrações. São registros de vários artistas, internacionais e nacionais
cantando versões múltiplas de suas canções, além, é claro, do próprio artista
em diferentes fases da carreira.
De certo
que, à primeira vista, o filme surpreende. Aos potencialmente críticos, Nelson
Pereira deixa bem claro sua verdadeira intenção ao colocar nos créditos finais
uma citação de Tom Jobim: “a linguagem musical basta”. E basta mesmo. Suas
letras, suas melodias nos fazem pensar o quanto a linguagem musical é emblemática
e atemporal. Jobim era um maestro completo e sua melhor expressão artística
estava na... melodia, portanto, nada mais justo homenageá-lo com um filme
diferente, sem deixar de ser completo.
Sempre
apreciei o repertório de Tom, desde pequeno. Por influência dos meus pais, que escutavam
seus discos, cresci admirando as melodias e os arranjos dele, principalmente
porque me chamava atenção seu jeito de tocar num piano que parecia ser tão fácil.
Quando
comecei a estudar piano, tinha apenas seis anos de idade, e na falta de um
instrumento em casa, limitava meus estudos de prática em um pequeno teclado. Passei
alguns anos praticando pouco por conta disso. O sonho de ganhar um piano de
verdade, grande, com um som forte, um teclado firme, parecia bem distante. Até
que, aos doze anos, meus queridos avós me fizeram bela surpresa. Coincidência
ou não, eles me presentearam com o meu piano no dia 8 de dezembro de 1994, dia em que Tom Jobim morreu.
Depois de
18 anos da morte dele (e 18 anos com meu piano em casa), hoje posso dizer que
Tom Jobim é o artista que mais me influenciou nos estudos de música.
Há 50
anos, o Grammy homenageia o conjunto da obra de grandes artistas de todos os
tempos. E esse ano é a primeira vez que a premiação escolheu um artista
brasileiro para receber tal categoria.
Veja matéria sobre o Grammy
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