“A gente não quer só comida/ a gente quer comida, diversão e
arte”. A famosa música do grupo Titãs já diz que não vivemos apenas do básico. Precisamos de
educação, saúde, trabalho, mas também diversão e arte. Na discussão que tomou
conta das redes sociais, nas manifestações de ruas e nas inúmeras greves
paralisando serviços fundamentais para “ordem pública”, o jargão “Não vai ter Copa”
é a resposta do povo que se diz contra aos gastos abusivos nos preparativos do
evento mundial, ao descaso de políticos com assuntos realmente importantes para
o país e tantos outros problemas crônicos.
A segurança pública foi ameaçada inúmeras vezes, com ataques
às UPPs, anunciando o que podemos esperar durante a Copa. E tudo isso assusta
não apenas a população, mas o mundo que aguarda a realização de um dos eventos
esportivos mais esperados. Os pensantes desses movimentos contra a
realização da Copa querem, obviamente, aproveitar o momento em que o país
estará em evidência para jogar no ventilador todos esses problemas
econômicos, sociais e políticos em que o Brasil enfrenta há muitos anos. Desde
o ano passado, as primeiras manifestações de rua já demonstravam que o “gigante
acordou” na hora exata para que o mundo olhasse para além dos estádios, seleção
brasileira e patriotismo fajuto. Mas todos de fato pensam assim?
Em artigo escrito por Fábio Vasconcellos (publicado no OGlobo), “O contraditório silencio verde amarelo”, o jornalista e cientista
político afirma algo interessante: socialmente falando, é melhor ser contra do
que a favor da Copa. Afinal, a opinião pública está sendo determinada por uma
parcela da população que defende essa ideia. E aquele que pensa o oposto,
infelizmente, pode ser alvo de críticas severas. Gostar de futebol, Copa e
torcer pela seleção passou ser feio ou, no mínimo, alienado ao atual contexto
nacional, mesmo sabendo que vivemos em um país onde futebol é paixão nacional.
“Entre futebol e melhores escolas, socialmente é mais
admirável quem aposta na segunda ideia. Mas por que isso? Porque poucas são as
pessoas que se dispõem a encarar o custo de um debate ou de uma exposição
nessas condições. É muito mais caro sustentar publicamente uma ideia quando do
outro lado, segundo a sua percepção, há não apenas maior volume de argumentos,
mas argumentos moralmente aprovados por todos. Ninguém quer ter uma opinião
isolada”, descreve Fábio.
Sejamos práticos: você não questiona a falta de um excelente
serviço de saúde e educação apenas em ano de Copa. Ser a favor da Copa não significa
que não seja favorável a melhorias nesses setores-chave da sociedade. Não se
trata de ideias excludentes. Um desabafo publicado e amplamente divulgado nas
redes sociais afirma que a resposta do povo contra os abusos orçamentários
gastos para Copa deve vir nas eleições, não agora durante o evento. Prejudicar
a realização desse campeonato mundial, só vem piorar a imagem do país
internacionalmente. E qual o efeito disso?
Quando o país ganhou o direito de sediar a Copa, a maioria
comemorou na época, porque via-se “com bons olhos” a vinda de um evento tão importante
como esse para o progresso do país. Infelizmente, esse progresso é uma
maquiagem mal feita para o Brasil aparecer bem na imagem.
A Copa acontece, com direito a reforço de policiamento nas
ruas (algo visto apenas em eventos como Eco 92, PanAmericano, Rio +20, Visita
do Papa, etc.), mas depois tudo volta ao normal, como sempre. “Adianta
reclamar?”. Adianta. Esse ano, coincidência ou não, também é ano de eleições.
Agora, o que nos entristece é não ter opções sérias de candidatos.
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