Outro dia fui cortar o cabelo no barbeiro de sempre e,
enquanto rolava a tesoura, víamos na TV a notícia que o empresário Eike Batista
era considerado foragido, depois que a Polícia Federal decretou sua
prisão por pagamento de propina ao então governador do Rio, Sérgio Cabral, já
preso desde novembro. Aquele que já foi apontado como um dos homens mais ricos
do mundo, e que já foi até capa da Revista Fobes, agora está na lista de
foragido da Interpol.
A conversa com barbeiro seguiu, naturalmente, para o caso
escabroso, até que ele solta: “já se tornou uma questão cultural. Todo empresário
no Brasil já se acostumou a ser corrupto, porque, num país onde vivemos, é
impossível ser 100% certinho. Claro que, no caso de um grande empresário, a
chance de ser corrupto aumenta, para que ‘a roda continue a girar’. Todos
querem ganhar, sejam os políticos, oferecendo vantagens, sejam os empresários
pagando o preço para serem beneficiados”.
Parece absurdo (e é!), mas se parar para pensar, tirando a
questão da ganância e do jogo de poder, muitos empresários só enriquecem de
verdade porque não pagam todos os impostos ou esquematizam contratos para não
seguir todos os deveres exigidos por lei. O que encontramos são empresários que
não colocam na carteira de trabalho de seus funcionários, por exemplo, o
salário que realmente ganham, preferindo pagar a maior parte por fora, diminuindo
o custo por funcionário. “Se não for assim, todos os comércios estariam
fechados nessa rua”, aponta o barbeiro.
Pior é quando aquele que deveria servir de exemplo é o
primeiro a ser denunciado por inadimplência. Está hoje nos jornais que o
vice-prefeito do Rio acumula uma dívida de mais R$215 mil em IPTU e ainda R$137
mil em impostos não pagos pela sua empresa de consultora. Segundo seu advogado,
“o vice-prefeito, como muitos profissionais liberais, enfrenta dificuldades
para pagar tributos por causa da crise econômica do país”. Se o vice-prefeito
não paga, quem é que vai pagar?
Se o empresário não consegue pagar o imposto, o empregado
ganha menos na carteira de trabalho e o Governo ainda está falido, então está
tudo errado.
Para o simples cidadão, que acompanha os noticiários de
políticos e empresários presos por propina, a situação de desespero só aumenta.
Só para piorar, o pagamento parcelado da dívida do cartão de crédito acaba de
ser banido. O preço para ser honesto no Brasil está custando caro.
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