27 de julho de 2011

Qual é o limite para arte?


Já foi o tempo que um simples vaso sanitário causou escândalo e revolta, quando Marcel Duchamp desafiou a definição de arte em 1917. Outros artistas, como Andy Warhol e Roy Lichtenstein, clássicos da Pop Art, também já surpreenderam o mundo com suas obras curiosas como latas de sopas Campbell.

A máxima “a arte imita a vida” já virou lugar comum faz tempo. A dramaturgia nasceu assim e até hoje a arte é o espelho da realidade, em grande parte. Mas quando nos deparamos com filmes e peças teatrais cuja temática chega ao extremo do sensacionalismo, da bizarrice, da falta de escrúpulo, perguntamos: até onde vai o limite da arte?

 “Arte – 3. Atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação/ 4. A capacidade criadora do artista de expressar ou transmitir tais sensações ou sentimentos” – dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.

cena de "A Serbian film" - foto divulgação
O que vem a fazer um cineasta produzir um longa que mistura violência com necrofilia, estupro de um recém-nascido e incesto envolvendo uma criança de 5 anos? Eu questiono a capacidade desses “artistas” de cultivarem e provocarem sentimentos de repulsa, nojo, desprezo e incômodo em suas obras. Trata-se do filme “A Serbian film – Terror sem limites”, cujo título já diz para que veio, tentando contar a história de um ator pornô que, em seu último trabalho, é drogado e levado a realizar diversas atrocidades. Esse filme tem estréia prevista em circuito nacional no próximo dia 5 de agosto, porém na cidade do Rio, por conta de uma liminar judicial, não será exibido. Um grupo formado por políticos, advogados, juízes e marqueteiros conseguiu essa liminar acusando a obra de incitar a pedofilia (óbvio).

Tal atitude ainda causou revolta de pelo menos 150 pessoas que protestaram na cidade a proibição do filme, o que levante outra questão: “isso não seria censura à liberdade de expressão e arte?”. Sim, isto é censura. Mas e daí? Isso pode ser considerado arte mesmo?

Sou contra a censura, ao mesmo tempo não concordo com justificativas do tipo “isso vai contra aos valores da Igreja e da família, blábláblá”, porque isso é discurso de “conservador hipócrita”, carregado de preconceitos, estilo Bolsonaro. Todo mundo tem o direito de assistir, ver, ouvir o que bem entender, desde que tenha idade para isso. Entretanto, o que venho ressaltar aqui é como um filme pode abordar uma temática tão sub-humana como essa?

Somos diariamente massacrados com informações de violências, explosões, antetados, assassinatos, terrorismo nos noticiários. Ainda assistimos a mesma violência retratada na cultura de massa, seja na novela, no seriado policial, no cinema etc. No fundo, já nos acostumamos com esse tipo de “verdade”, e até celebramos o sucesso de filmes como “Tropa de Elite”, “Cidade de Deus”, “Carandiru” e o mais recente “Assalto ao Banco Central”. Vivenciamos a violência todos os dias, seja na vida real, seja na ficção.

Na mesma semana em que deparamos com uma morte estúpida de uma cantora no auge de seu sucesso, porém mergulhada no mundo obscuro e fatal das drogas; somos ainda surpreendidos com “obras artísticas” como essas, com único intuito de... chocar!

Leia matéria sobre o filme

Um comentário:

Alô Alô disse...

Alô Mario!Limite tênue este em que vc esbarrou ehin? Concordo que este tipo de ¨arte¨,além de exorcisar os demônios do autor,não serve para muita coisa mesmo e sinceramente,se meu filho manifestasse o desejo de assistir,seria contra e não entenderia o porque de tal necessidade mas por outro lado,não acho que uma proibição que ultrapasse os limites do julgamento pessoal,seja o correto.Transforma-lo em tema de debates,de questionamentos com quem o assistisse,talvez fosse mais lucrativo.Proibir só o deixará intesressante,trazendo uma publicidade que,talvez,ele jamais tivesse sem isso.Quando o Estado ou a religião, interveem em decisões que pertencem ao indivíduo,o tiro raramente deixa de sair pela culatra.Abraços mil,Anna Kaum.